Ciência 360

Os desafios da “saúde pública digital” frente a pandemia tecnológica

Saúde pública digital na era da inovação tecnológica

Fernanda Domingues Gomes Martins

Girlândia Alexandre Brasil

Programa de Pós-graduação em Assistência Farmacêutica da Universidade Vila Velha (UVV)

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A revolução tecnológica que se iniciou em meados do século XX, pós Segunda Guerra Mundial, trouxe diversos avanços globais nas cadeias produtivas e comerciais. Desde então vivemos uma verdadeira “pandemia tecnológica” onde temos uma rápida propagação da tecnologia e, especialmente uma crescente de inovação onde novas ideias e tecnologias são implementadas e geral um impacto direto na vida das pessoas.

Essas mudanças são visíveis no dia a dia, onde a entrada de novas tecnologias e inovações estão transformando o mundo de maneiras inimagináveis. Perpassados os muros industriais, tais avanços tecnológicos e científicos vêm sendo incorporados aos sistemas de saúde objetivando melhorar a eficácia e eficiência dos cuidados de saúde, proporcionando diagnósticos mais precisos, tratamentos mais personalizados e uma maior acessibilidade aos serviços de saúde. A pandemia de COVID-19 acelerou o uso da tecnologia em muitos aspectos da vida, desde o trabalho remoto e a educação on-line até o atendimento médico virtual. Embora tenha sido uma ferramenta inestimável durante a pandemia para nos manter conectados e seguros, também criou desafios, como a lacuna digital e a desigualdade no acesso às tecnologias.

À medida que novas tecnologias continuam a ser desenvolvidas, é importante garantir que elas sejam usadas de forma responsável e segura para beneficiar a todos os envolvidos, desde os pacientes até os profissionais de saúde que passarão a fazer uso delas. Entretanto, há de se destacar que muitas são as barreiras a serem enfrentadas ao longo dessa caminhada digital no âmbito da saúde pública, onde o acesso às novas tecnologias deve ser equitativo, garantindo que todos os usuários do sistema tenham acesso igualitário aos avanços médicos.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem como objetivo garantir o acesso universal e equitativo a saúde para toda a população. Assim, alguns estudos têm demonstrado que o SUS tem sido efetivo na incorporação das tecnologias em saúde entretanto, ainda aparecem desigualdades regionais e socioeconômicas no acesso as modernas tecnologias em saúde. Essa realidade não é apenas Brasileira, diversos outros países enfrentam desafios para garantir o acesso universal e equitativo, visto que muitas vezes a tecnologia é considerada um luxo.

Apesar da situação ter mudado um pouco nos últimos anos, com o aumento do acesso à internet por meio de dispositivos móveis, cerca de 28,2 milhões de brasileiros ainda não usavam a internet no ano de 2021, os chamados “excluídos digitais” representando 15,3% da população brasileira com 10 anos ou mais de idade, esses dados indicam que a desigualdade digital no Brasil é uma das mais altas da região e o acesso à internet é limitado para aqueles que tem baixa escolaridade e renda e aqueles que vivem em áreas rurais.

De maneira análoga a limitação do acesso, o analfabetismo tecnológico, definido como a falta de habilidades e conhecimento para utilizar as tecnologias de forma eficaz, é um grande obstáculo para a prestação de cuidados digitais em saúde, muitas pessoas podem ter dificuldades para usar smartphones, dispositivos eletrônicos, aplicativos de saúde ou dispositivos de monitoramento, como monitores de glicemia ou medidores de pressão arterial, limitando a eficácia dessas tecnologias na melhoria da saúde. Esse analfabetismo tecnológico se dá por diversos fatores, como falta de acesso a tecnologia ou, ainda, dificuldade pessoal em usar a mesma o que é visto principalmente em idosos que não acompanharam a progressão tecnológica.

Assim, para explorar da melhor forma esses novos dispositivos de saúde, os pacientes e os profissionais de saúde precisam ter as habilidades necessárias para usá-los adequadamente. Para tanto, os gestores precisam investir em programas de educação e treinamento para promover a alfabetização tecnológica e, consequentemente, a inclusão da tecnologia em saúde nos ambulatórios e nos currículos universitários, o que prepararia os futuros profissionais de saúde para as demandas da era digital.

Em resumo, a inovação tecnológica tem o potencial de revolucionar a área da saúde, tornando os cuidados de saúde personalizados, acessíveis e eficazes. Entretanto, é importante que os serviços de saúde garantam o acesso de forma equitativa a todos os usuários e profissionais, e, em especial, garantam aqueles que não tem conhecimento da tecnologia treinamentos para que eles possam utilizá-la. Essas garantias promoverão ainda mais avanços na área da saúde e melhoria a toda a população.

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